Jane Correia. Foto: Jadilson Simões

Por Jane Correia

“Há um cheiro de magia no ar. Somos envolvidos por um doce encanto que mais parece acalanto, e nos induz a sonhar. Viramos soldadinhos de chumbo, com suas cornetas, caixas, marcações e bumbos, enfileirados numa fanfarra gostosa, o seu toque a ecoar. E as balizas, serelepes e brejeiras, embora não mais tão ligeiras, mais parecem bailarinas e fadinhas faceiras e cada uma na sua brincadeira, têm o dom de transformar seu bastão linda varinha de condão, encantando a todos ao passar.

E o que importa se não fazem mais acrobacias, pontes, estrelinhas, estripulias? Tem somente a certeza, a graça e a beleza, de conservar o garbo orgulho e nobreza, de representar seu colégio ao desfilar. Já nos primeiros ensaios sentimos uma sensação ímpar de prazer e alegria, que nos envolve e contagia, culminando neste dia especial. Chego até a pensar que foi o “Bom Velhinho”, que abençoou com muito amor e carinho, o nosso encontro e já nos deu como presente de Natal.

E lentamente a magia, chega mansa e contagia, quando o toque da corneta anuncia, o início do desfile, por todos esperado. Nesse momento nos despojamos de títulos, cargos, riqueza, ou eventual nobreza; hoje, aqui ninguém é pobre, preto, branco, rico ou nobre; nos tornamos iguais perante os homens e Deus. Não existem ateus ou protestantes e num sincretismo fascinante, deixamos de ser importantes, e nos transformamos simplesmente em ‘alunos’ do ATHENEU.

Por vezes somos traídos pela emoção. O corpo enrijece e teima em não obedecer nosso comando. E entre olhos marejados, suspiros dobrados e profundos, o coração apesar de acelerado, nos impulsiona dando a direção. E num turbilhão de pensamentos, entre delírio e realidade, desfilamos imponentes, garbosos e contentes revivendo um passado. Vem a saudade dos que já não estão mais ao nosso lado, mas se fazem tão presentes, em nosso coração e nossa mente, que chega causar arrepio, quando a banda executa com tanto brio a canção ‘Amigos para Sempre’.

O que falar desse encontro entre amigos que há muito não vemos, mas de longe os reconhecemos, nos pequenos gestos, sorriso ou olhar. Colegas que vem de longe, apenas e simplesmente pelo imenso prazer de nos encontrar. Como é gostoso sentir a efusividade desse abraço, que nos envolve em terno laço, saciando a saudade daqueles que há muito não via. E é tanto riso, tanto canto, que a emoção desse encontro é uma explosão de alegria.

É como explicar os ex-namorados que por meio de disfarce e até certo rubor na face, muitas vezes são flagrados, arriscando olhares sorrateiros, furtivos, desconfiados, mas certeiros, ao seu grande amor do passado, (só sabe quem viveu), quem esteve sempre ao seu lado, no tempo dos anos dourados, vividos no grande e velho Atheneu.

Amigos, a vida é uma viagem, aqui estamos só de passagem, e já que ela nos cobra tanto, por que não viver esse encanto? Esqueçamos por um instante nossas lutas diárias, os conflitos, as mazelas. Sigamos numa bela aquarela, façamos do inverno, primavera e embarquemos nessa linda quimera.

Deixemos de lado as batalhas. Desfrutemos dessa magia que nos une, contagia e pelo ar se espalha. Agradeçamos a ‘Deus’ por mais um encontro e roguemos que no próximo, estejamos prontos, para desfrutar desse momento mágico. Não desistamos dos nossos sonhos. Vivamos com mais amor, leveza, alegria. Brindemos à vida a cada dia. Esqueçamos as batalhas, antes que o bumbo fique mudo, a corneta se cale e o lindo bastão da baliza vire uma triste bengala”.

Depoimento emocionante da ex-aluna do Colégio Atheneu Sergipense, baliza da Banda Marcial de ex-alunos, Jane Correia.