Por Jorge Lins de Carvalho

Um dia eu pensei que podia ser feliz.

Sonhei que podia conquistar o mundo, abraçar o sol, falar de coisas bonitas,

conhecer pessoas, ter muitos amores.

Um dia eu pensei que podia ser feliz.

Corria pelos corredores do meu Atheneu e pensava grande: Ia ser o dono do mundo!!!

A felicidade parecia tão próxima …

Brincava com a verruga de Dona Valdice

Com os gritos de Manézinho …

O dia parecia completo e com razão para ter sol: os meus mestres!!!

Professor Leão, Maria da Glória Monteiro, Adão, Torroio, Ronaldo, Antônio dos Santos,

Franklin, Heribaldo, Jeferson. Marlene Tojal, Marlene Montalvão, Sônia Andrade, Glorita,

Carmelita Fontes, Jorge Brilhantina, José Carlos (Pardal), Francisco Moura, Feola,

Terezinha, Marlio, Nely, Candoca, Sônia Ramalho, Galdino, Didi Macedo, Jorge Moura,

Pedro Amado, Lucila, José dos Anjos, Calumby,

Saudade.

De uma época em que os olhos pareciam ter um brilho eterno.

Saudade.

De um tempo. De uma escola. Velhos corredores. A escola podia não estar assim,

pintada, cheirando a nova … mais havia uma energia, uma força tão grande nos

olhares, nas pessoas, que faltar um dia era como estar doente!

Um dia eu pensei que podia ser feliz …

Nas festinhas dos sábados sempre na casa de algum colega, dos desfiles de sete de

setembro, nos jogos estudantis, na quem-me- quer da Fausto Cardoso, no iate com o The

Tops, nas festinhas da AABB da Zaqueu Brandão, nos campinhos do Bariri, nas missas

aos domingos na Catedral, nas meninas do G.A.

Engraçado, hoje as festas são para mais de dez mil pessoas e ninguém se conhece

direito. Sete de setembro virou uma obrigação cívica, os jogos viraram promoções

políticas, a Fausto Cardoso, coitada da Fausto Cardoso … O Iate não tem mais jantar

dançante, o The Tops não existe, a AABB da Zaqueu Brandão virou agência de Banco,

nos campos do Bariri foram construídos prédios e prédios… as missas são pela TV Globo

de manhãzinha e até o G.A das meninas bonitas virou instituto de previdência…

É … Acho que envelheci… de verdade!!!

Um dia eu pensei que podia ser feliz!

Trinta anos depois, eu descobri que o mundo mudou muito, tudo está diferente!

Mas, ainda continuo querendo ser feliz…

E hoje aqui no meu colégio, com tantos colegas que não vejo há tanto tempo é que

eu compreendo ainda mais o quanto foi importante a época em que eu descobri que

queira ser feliz…

Os anos passam, os cabelos ficam brancos e caem, a barriga cresce, mas os

sonhos não morrem!

Um dia eu pensei que podia ser feliz.

E ainda penso: Eu posso e vou ser feliz.

Crônica de Jorge Lins de Carvalho lida na abertura da 5ª Festa de  Confraternização dos ex-colegas, ex-professores e ex-funcionários do  Colégio Estadual Atheneu Sergipense, realizada em 20 de dezembro de 2003.